Transtorno mental não é frescura


Você acha esta tirinha engraçada? Eu não. Pode me chamar de politicamente correto, mas suicídio é a quarta maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos. Convivo com a depressão desde a adolescência e em 2007 tive um surto persecutório, fiquei uma semana internado na ala psiquiátrica de um hospital em minha cidade. Meu primeiro diagnóstico foi de esquizofrenia, passei por mais alguns médicos até achar o profissional que me acompanha até hoje e mudou meu diagnóstico para transtorno bipolar. 



Foram 13 meses medicado, sem vontade alguma de fazer algo, um mau humor infernal, o que levou ao fim um namoro de 6 anos. Aqui cabe uma ressalva, minha namorada e meu irmão foram as pessoas que mais me apoiaram neste período, as vezes achava que ela era duas, par dar conta de tanta coisa. Até hoje somos amigos, sou muito grato aos dois.

Certo dia resolvi voltar a pedalar, me senti melhor. Abandonei a medicação e comuniquei ao meu médico, ele me entregou um cartão com seu celular e me disse: "Qualquer alteração de humor me liga."

A bicicleta realmente mudou a minha vida. Emagreci 25 kilos, minha disposição voltou, comecei a sair de casa pra ir em shows, teatros, reencontrei amigos. Em 2009 começaram as viagens(as primeiras por agência), bicicletadas, formamos o grupo Pedala Maringá, fizemos algumas trilhas, uma viagem só de ida de 120km.

No final de 2009 participei do Desafio Márcio May ainda de recuperação de retirada da vesícula e participei de um workshop de mobilidade por bicicleta em Blumenau.



Comecei a participar de eventos relacionados a cicloturismo e cicloativismo, além de seguir com as viagens, a grande maioria sozinho, Em 2012 criamos o nosso pedal noturno, sempre as quintas feiras. Tinhamos dois grupos no Facebook: o Pedala Maringá e o Bicicultura Maringá. O primeiro pedal foi em fevereiro com cerca de 50 pessoas. Com a criação do Fórum Mundial em Porto Alegre e dos Fóruns Mundial de Porto Alegre, resolvemo criar o nosso fórum em um pedal que já existia na cidade: o Ecobike Foram varias palestras de sexta a sábado a noite, e domingo o pedal.



O evento foi um sucesso, continua até hoje trazendo cicloativistas e cicloturistas conhecidos. Em julho daquele ano resolvi que era hora de descansar um pouco, estava as vésperas de ir pra Portugal numa viagem de 20 dias pra conhecer o país e meus parentes e o local onde meus pais nasceram. Tinha arrumado um desafeto que estava usando a bicicleta como motivação politica porque pretendia se candidatar a vereador, descobri que a minha mãe estava com Parkinson e as discussões no grupo Bicicultura Maringá estavam me enchendo. Sai da moderação deste grupo, haviam outros moderadores e avisei a um deles que o afastamento era temporário, que retornaria a moderação após a eleição.


Voltando a Maringá, acabei me afastando da galera do pedal por divergência de opiniões e do rumo que o grupo tomou. Confesso que não sou das pessoas mais fáceis de lidar, alem da irritabilidade que a doença causa, tenho que ser muito forte pra aguentar as crises depressivas.

Dei palestras em Marino Clube de Cicloturismo.  Já não pedalava com  mesma frequência mas não abria das viagens e do encontro nacional de cicloturismo.



Em maio de 2017 volta de dois pedais pela Bahia: Chapada Diamantina e Rota do Descobrimento. estava super empolgado com mil planos, um deles era uma viagem com meus amigos pra fazer caminhos do Diamante e Sabarabuçú quando meus amigos e familiares me perceberam muito agitado: eu estava numa virada maniaca.  Ainda não entendo se o excesso de atividade é causa ou consequência da doença, mas acontece que você se sente um gênio imbatível, tem idéias mirabolantes iguais a do Cebolinha. Na minha cabeça todos meus planos tinham tudo para dar certo.



Desta vez a virada não durou só uma semana, foram meses mandando mensagens sem sentido a várias pessoas mesmo estando medicado. Fiquei sem a chave da moto, sem usar o computador, a depressão veio forte. Quando achava que estava ficando bom vinha a recaída. Sai de casa pra me divertir dia 6/1/2018. No dia seguinte crise de choro e mandei mensagem pra psicologa que me acalmou dizendo que era normal esta reação devido a meu estado de apatia nos últimos 6 meses

Bipolares tem 28% a mais de propensão ao suicidio. 50% dos bipolares se matam. Eu sou um sobrevivente, é preciso esclarecer as pessoas que suícidio ou a tentativa não é frescura. Fique atento a ao seu comportamento e de seus familiares. Procure ajuda, orientação junto ao CAPs da sua cidade ou ao CVV.

Continue pedalando, atividade física ajuda, mas busque apoio familiar, procure psiquiatra, psicóloga, tente entender e estudar a doença, seus sintomas, tomar a medicação, fazer terapia. Transtorno mental não tem cura, mas é possível levar uma vida com qualidade.



Para quem quer tentar entender o quue é depressão:
"Foi para aumentar a conscientização sobre o tema que a desenvolvedora de jogos Thais Weiller e a ilustradora Amora B. – da JoyMasher – criaram o jogo Rainy Day (“Dia Chuvoso”, em tradução livre). O game está disponível aqui, e é bem curto. O jogador tem um único objetivo: sair da cama e chegar ao trabalho. Para fazer isso, basta selecionar, em cada tela, o próximo passo da protagonista. Tão simples quanto acordar na vida real, certo? Não, claro."

Para tentar entender o que é depressão: Rainy Day by Thaisa 
Fonte: Revista Galileu


Palestra que fiz em 2015 no Ecobike:

Desta vez eu só tenho a agradecer aos meus amigos: Sérgio, Priscila, Carla, Mário(meu irmão), Tamires(psicóloga), Dr.Milton





"Faço de mim
Casa de sentimentos bons 
Onde a má fé não faz morada 
E a maldade não se cria 
Me cerco de boas intenções 
E amigos de nobres corações 
Que sopram e abrem portões 
Com chave que não se copia 
Observo a mim mesmo em silêncio 
Porque é nele onde mais e melhor se diz 
Me ensino a ser mais tolerante, não julgar ninguém 
E com isso ser mais feliz 
Sendo aquele que sempre traz amor 
Sendo aquele que sempre traz sorrisos 
E permanecendo tranquilo aonde for 
Paciente, confiante, intuitivo 
Faço de mim 
Parte do segredo do universo 
Junto à todas as outras coisas as quais 
Admiro e converso 
Preencho meu peito com luz 
Alimento o corpo e a alma 
Percebo que no não-possuir 
Encontram-se a paz e a calma 
E sigo por aí viajante 
Habitante de um lar sem muros 
O passado eu deixei nesse instante 
E com ele meus planos futuros 
Pra seguir 
Sendo aquele que sempre traz amor 
Sendo aquele que sempre traz sorrisos 
E permanecendo tranquilo aonde for 
Paciente, confiante, intuitivo"

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